quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Peso do Tempo

Abro a boca para falar
Mas as palavras são desfeitas pelo vento.
Tento mais uma vez gritar
Mas apenas rebento,
Como em todas as outras tentativas
Repletas de falhas sortidas.
A cada minuto que passa
Tento ganhar forças para te falar,
Mas são tentativas em vão....
O meu maxilar cai sempre no chão,
Apodrecido pelo desgaste temporal
E esforço das cordas vocais
Que de vida já não dão sinal.
Então descanso durante horas seguidas,
Na esperança que regenerem
Estas podres cordas destruídas.
É uma espera interminável
Que enruga e envelhece a minha cara
Com uma velocidade atroz
E uma fúria abominável,
Abrindo pequenos golpes melancólicos
No meu cérebro incandescente,
Lembrando-me do passado,
Até que um vaso sanguíneo rebente
E o mundo para mim esteja acabado.

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sábado, fevereiro 17, 2007

Taberna

Mais uma vez sou arrastado
Pelas ruas desertas da cidade.
Envolto no nevoeiro nocturno
Á minha alma vou abraçado.

Voltando de novo aquele lugar
Com a imponente porta de madeira,
Apodrecida e esburacada como uma peneira
E negra de poluição por ninguém a amar.

É a taberna do Sr. António,
Onde, para mim, o whisky flui como vinho
Para libertar o meu demónio
Que se encontra aprisionado e sozinho.

Desço as longas escadas escuras,
Iluminadas por velas nos negros castiçais antigos
Que mal ajudam a escapar das mordeduras
Dos ratos nojentos que purgam de peste.
Vou tacteando, como sempre,
A parede de pedra
Humedecida pelo calor alojado no seu ventre.

Chegando ao que parece o centro da Terra,
Encontro a pura misantropia e decadência.
O Sr. António é o único que não berra,
Tendo o poder de parar qualquer indecência.

Aproximo-me do balcão,
Imponente como a porta de entrada,
Cumprimento-o com um forte aperto de mão
E peço o costume sem precisar dizer nada.

Sento-me na mesa habitual,
A redonda no canto negro
Amarelado pela vela no castiçal.

Devorando os copos dourados
E a fumegar como um dragão,
Liberto o meu verdadeiro eu
E exponho tudo no papel a carvão.

Aqui permaneço até o sol nascer,
Embriagando-me toda a noite
Enquanto a minha alma está a escrever.

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